O resultado da pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD-Brasil), divulgado no mês passado, mostrou que a Diocese de Apucarana, com área de abrangência em 36 municípios, distribuídos em seis decanatos, tem 9,59% da população vivendo na pobreza ou extrema pobreza, o que corresponde a 45.968 pessoas, dentro de um universo de 479.336 habitantes.
No comparativo entre 1991 a 2010, período da pesquisa, houve uma significativa redução nos níveis de pobreza e extrema pobreza em 34 municípios.
Estes números indicam que o Índice de Desenvolvimento Humano da Diocese de Apucarana é o menor do País - 0,709. Entre as regiões diocesanas, a Sul é que apresenta maiores índices de pobreza e extrema pobreza, cabendo aos municípios de Jardim Alegre (38%) e Arapuã (35%) os piores resultados da pesquisa, resultado da baixa empregabilidade e dos grandes latifúndios rurais. Com a falta de empregos, a renda familiar gira em torno de R$ 70 a um salário mínimo, através de benefícios dos programas sociais do Governo Federal.
Já no outro extremo - Região Norte - a situação é inversa, com pequenos municípios abrigando novas empresas e, por conseguinte, contratando novos trabalhadores, especialmente para o primeiro emprego, agregando renda as famílias.
O assistente social Danilo Stocco de Souza, da Caritas Diocesana de Apucarana, credita esta situação favorável à implantação de indústrias em regiões anteriormente essencialmente agrícolas, como o Norte da Diocese, além do desenvolvimento das duas maiores cidades - Apucarana e Arapongas.
“Para se ter uma ideia, no período de janeiro de 2010 a julho de 2013, foram gerados 29.670 novos empregos em todos os munícipios da Diocese, permitindo que jovens, principalmente, tivessem acesso a renda, contribuindo para a redução da desigualdade social”, analisa Souza.
Exemplificando seu raciocínio, Danilo Stocco cita os municípios de Astorga, Sabáudia, Santo Inácio e Colorado, que juntos geraram mais de 2,5 mil novos empregos. “Em curto período de dois anos e meio, milhares de pessoas puderam ingressar no mercado de trabalho, proporcionando mais renda as suas famílias, garantindo maior qualidade de vida para todos”, completa ele.
Mas se por um lado há nítidos sinais de desenvolvimento, por outro os resultados são preocupantes. A região Sul da Diocese apresentou também redução nos níveis de pobreza, mas não se forma significativa.
“Esta é uma região caracterizada por grandes latifúndios, que empregam poucas pessoas e em épocas específicas contratam mão de obra diária, cujos ganhos são baixos em relação ao salário pago no comércio ou na indústria”, diz.
Em face da baixa renda, complementa o assistente social, não há grande movimentação no comércio e por conseguinte as cidades, que já são pequenas, também não apresentam desenvolvimento significativo.
Já os dois maiores centros da Diocese - Arapongas e Apucarana - tiveram saldo expressivo na geração de primeiro emprego - 8.927 e 8.658, respectivamente. “Com isso, também houve uma significativa redução nos níveis de pobreza nas duas cidades. Esta empregabilidade ajudou no acréscimo de renda das famílias”, frisa Stocco.
IGUARAÇU TEM O MELHOR IDH
O município de Iguaraçu, com população estimada em quatro mil habitantes, tem o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da diocese – 0,758 – acima do brasileiro – 0,727 – e do paranaense – 0,749. O motivo desta qualidade de vida está diretamente ligado à localização do município: 30 minutos de Maringá, maior centro comercial, industrial e educacional da região.
O assistente social Danilo Stocco de Souza explica que esta proximidade permite aos residentes em Iguaraçu trabalhar e estudar em Maringá. “As pessoas declaram os seus ganhos como moradores em Iguaraçu e isto é contabilizado, quando da pesquisa, como do município, contribuindo para a redução da desigualdade social”, analisa.
Iguaraçu tem ainda o terceiro melhor condomínio fechado do pais do Grupo Alphaville, de São Paulo. Nele residem médicos, professores e empresários de Maringá e suas rendas são declaradas para Iguaraçu. Também há um parque aquático que recebe visitantes de vários do País, que emprega centenas de pessoas.
Na análise da pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento do Brasil, houve em Iguaraçu uma significativa redução dos níveis de pobreza. Em 1991, pobreza e extreme pobreza atingia a 42% da população e no resultado de 2010 chega a 5,3%, ou seja, pouco mais de 200 pessoas têm renda entre R$ 70 a um salário mínimo.
Análise do Desenvolvimento Humano e Social da Diocese de Apucarana
Danilo Stocco de Souza
Assistente Social
Cáritas Diocesana de Apucarana
Há um fator favorável no qual podemos observar em todos os índices e estatísticas: em 20 anos o Brasil avançou no quesito de desenvolvimento humano referenciado principalmente no acesso aos serviços públicos (de saúde e educação), na melhoria da qualidade e perspectiva de vida, ao acesso ao trabalho, ao aumento da renda e a diminuição da desigualdade social.
Entretanto a realidade social é complexa e exige uma reflexão que se depara ainda a um fenômeno: a pobreza. Apesar de vários estudos de pobreza utilizarem a abordagem unidimensional padrão baseada na renda e consumo, o que iremos apresentar segue a perspectiva multidimensional no tratamento da pobreza no Brasil e mais especificamente na Diocese de Apucarana, usando diversas informações do Censo Demográfico 2010, do Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013/PNUD e do Sistema de Informação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome.
A Diocese de Apucarana é formada por 36 municípios dentro de regiões com especificidades diferenciadas. Conforme conseguimos observar na tabela acima, percebemos municípios com elevados números de desenvolvimento humano e social e outros com índices preocupantes, o que remete uma diocese abaixo do índice de desenvolvimento humano tanto nacional quanto do estado; uma diocese com questões sociais relevantes e emergentes com particularidades que demandam respostas eficientes de um trabalho integrado com todos os setores da sociedade, inclusive o religioso.
Percebemos um grande contingente de indivíduos dentro do território diocesano que vivem em situação de extrema pobreza ou de pobreza, além dos tantos outros indivíduos que estão em situação de vulnerabilidade, ou seja, propensos à pobreza.
Nessa perspectiva apontamos mais um dado referente a juventude, correspondendo com a Campanha da Fraternidade de 2013, na qual nos remete atentar que mais da metade da população pobre ou vulnerável a pobreza é jovem.
As condições oferecidas aos jovens são desiguais. Situações econômicas específicas, como a renda familiar e o nível de desenvolvimento local onde vivem, práticas discriminatórias e preconceituosas ainda vigentes, tem marcado a vida dos jovens e comprometido seu futuro (CNBB, 2013).
Somos desafiados e provocados a refletir sobre uma das questões que afeta grande parte da sociedade, em especial a juventude, que se sente vulnerável diante da estrutura social de desigualdades, seja nos âmbitos relacionados a renda, escolaridade, trabalho, gênero, relações familiares, cultural, entres outras; capaz de fomentar sua exclusão e a proporcional violência , reflexo deste quadro.
No tocante a desigualdade, percebemos, como já foi dito, que houve uma diminuição nos índices, entretanto isso não significa um avanço; muito pelo contrário, o que se observa na Diocese de Apucarana é que há mais pessoas iguais na pobreza e na precariedade no acesso aos bens de consumo e serviços públicos, ou seja, não é significativa a discrepância entre pobres e ricos, mas perante os outros dados e índices, há o destaque de que a maioria da população está na pobreza ou vulnerável a este patamar.
Estamos acostumados a dar muita atenção à pobreza de renda, mas nem a pobreza nem a renda resumem os grandes desafios que temos que enfrentar. Portanto, aumentar a profundidade e complexidade da pobreza também tem a ver com fatores qualitativos, como os aspectos cognitivos, atitudes afetivas e comportamentais envolvidos na mesma.
A erradicação da pobreza tem caráter emergencial, mas concentrar as energias nessa emergência leva a um problema conhecido: um centavo acima da linha de pobreza faz alguém deixar de ser pobre, embora quase nada tenha mudado para essa pessoa.
Sim, parece que falta algo quando nos focamos tanto nos pobres. Falta olhar para quem já não é pobre, mas que ainda tem muito menos que aqueles no topo da pirâmide social. Ou seja, falta tratar também da desigualdade.
Ter renda estável é importante. Não é o dinheiro em si o que importa, mas o que se pode fazer com ele, como comprar o brinquedo da filha ou pagar dentista do filho.
Há, porém, coisas cruciais que mesmo um indivíduo mais rico teria dificuldade em comprar. Rios sem poluição, populações sem epidemias, avenidas sem engarrafamentos e bairros seguros são exemplos que um indicador de renda não capta.
Há também aquilo que é possível comprar, mas se pode obter de outra forma. Pessoas que têm acesso a boas escolas e bons serviços de saúde gratuitos vivem melhor que as demais, mesmo com uma renda bem inferior.
Na balança do desenvolvimento, a melhoria na qualidade da infraestrutura pública muitas vezes pesa mais que os aumentos de renda.
É fundamental ir além da renda quando se consideram as condições de vida. Nessas dimensões o país também é muito desigual.
A pobreza é talvez o componente mais significativo do subdesenvolvimento, combater-la é levar em conta a justificação social que são desencadeadas. A pobreza além da escassez de recursos econômicos, constitui em uma privação, uma incapacidade de satisfazer as necessidades mais fundamentais e inerentes do homem.
Contudo, diante desta perspectiva, quais ações poderíamos adotar a nível diocesano, municipal ou paroquial que impulsionaria uma significativa mudança social? Quais setores da sociedade precisam de nossa maior atenção? Quais parcerias podemos criar para fortalecer as estratégia de superação desta realidade?
Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais (PAPA FRANCISCO, 2013).
Dentro da Diocese de Apucarana existe o Setor de Serviço Social e a Cáritas Diocesana na qual fomentam ações que permitam um maior avanço social dentro da abrangência da diocese. Busquemos fortalecer estes organismos no ensejo de promover nossos irmãos e irmãs.
Referências:
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Campanha da Fraternidade 2013: Texto-Base. Brasília, Edições CNBB, 2012.
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Um Novo Estado: caminho para uma nova sociedade do Bem Viver – Estado para que e para que?. Brasília, Edições CNB, 2011.
MEDEIROS, Marcelo. Análise: Pobreza e renda são só parte da agenda que merece atenção. Folha de São Paulo. 2013.
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE A FOME. Relatório de Informações Sociais. Disponível em: http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/index.php
PAPA FRANCISCO. Viagem Apostólica ao Rio de Janeiro por ocasião da XXVIII Jornada Mundial Da Juventude – Pronunciamentos. Escritório de Informação do Opus Dei no Brasil. Rio de Janeiro, 2013.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/
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